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domingo, 29 de janeiro de 2012

Paulo Ventura cadê você?

por Kátia Hidalgo Daia, sábado, 28 de Janeiro de 2012 às 22:58


Não poderia deixar de comentar sobre a excelente minissérie  “O Brado Retumbante” da Rede Globo que encerrou-se ontem.

Uma ótima reflexão sobre o quadro político de nosso país, o jogo político escancarado de uma forma que não estamos acostumados, pois a mídia quando não ilude, esconde ou compactua, fica amordaçada. O reforço da idéia que já possuía acerca de campanhas sujas...ou seja, um político que precisa apelar em suas campanhas, denegrindo o seu adversário, ao invés de priorizar as suas propostas e projetos, não merece nosso voto.

Outro ponto de destaque é que não existe uma pessoa perfeita, mesmo esse ideal criado pelo autor, tinha seus defeitos como qualquer ser humano e que devemos pensar nisso também ao fazermos a nossa pesquisa...esse “defeito” é grave para o cargo que ele irá ocupar ou não? No caso da personagem em questão poderíamos afirmar (confesso que já pensei assim tb) que uma pessoa que não consegue ser fiel ao seu casamento não é confiável, mas ali foi mostrado que não necessariamente é  assim. Assim, se fizermos como aquelas pessoas que procuram o homem ou mulher ideal para casar, acabam nunca se casando, acabaremos não votando em ninguém. E vc pode dizer, -E daí? Daí que de qualquer modo alguém será eleito e se vc não votar estará deixando de exercer o seu direito de escolha e com isso  reduzindo as suas possibilidades de ver acontecer as mudanças que vc sonha. Mesmo que as expresse apenas  através de reclamações e críticas, todos nós temos o desejo de ver as coisas melhorarem.

No último capítulo foi muito importante as colocações sobre participação, omissão  e responsabilidade com o coletivo sobrepujando o interesse individual.

A sacada do arrependimento de um ex-presidente achei bem oportuna e o final muito inteligente porque deixou a imagem de um político que idealizamos e que aguarda o nosso voto.

Quero acreditar que exista algum que se pareça com o personagem Paulo Ventura para escolhermos nas próximas eleições. Oxalá consigamos encontrá-lo!!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A ética da representação


“O vácuo provocado pelo lapso de tempo é preenchido com a chamada democracia representativa, onde o cidadão e suas organizações escolhem aqueles que representarão os seus interesses, perspectivas, projetos e sonhos”


Cezar Britto 11/01/2012 07:05 – Fonte: Congresso em Foco - http://congressoemfoco.uol.com.br/opiniao/colunistas/a-etica-da-representacao/

No mundo que se diz democrático não há espaço para o isolamento decisório. Nesta moderna forma de administrar a coisa pública, o governante não é mais o senhor absoluto das decisões, tampouco o único intérprete autorizado a decifrar o pensamento dos seus administrados. O governante que se diz moderno é obrigado a compartilhar os seus poderes, pudores e quereres. Neste sentido, a consulta aos cidadãos e suas organizações não é uma mera faculdade, mas uma obrigação fundamental e definitiva para situar o grau de democracia aplicado. Eis porque eleições, plebiscito, leis de iniciativa popular e referendo são regularmente apontados como instrumentos determinantes para o exercício da soberania popular, momentos únicos em que os cidadãos participam diretamente dos destinos de seu país, ratificando ou mudando os rumos traçados pelos governantes.
Mas a participação do cidadão e suas organizações não se resume aos processos de eleição e consulta popular. Não poderia mesmo a democracia ser reduzida a instrumentos que são utilizados de forma pontual e periódica, ainda que a democracia participativa seja considerada a mais eficaz. O vácuo provocado pelo lapso de tempo é preenchido com a chamada democracia representativa, onde o cidadão e suas organizações escolhem aqueles que representarão os seus interesses, perspectivas, projetos e sonhos. Com a democracia representativa, complementando a participação direta dos cidadãos, estaria fechado o círculo de compartilhamento decisório a que está obrigado o governante.
Não sem razão encontramos representantes dos cidadãos e suas organizações em todos os cantos e recantos decisórios do Brasil. O presidente, os governadores e os prefeitos junto ao Poder Executivo. Os senadores, os deputados e os vereadores junto ao Poder Legislativo. Os representantes da advocacia e do Ministério Público, considerados como essenciais à administração da Justiça, junto ao Poder Judiciário. Estas duas entidades, junto com os dois representantes da sociedade indicados pelo Congresso Nacional, participam do importantíssimo Conselho Nacional de Justiça e do ainda devendo Conselho Nacional do Ministério Público. Trabalhadores e empresários indicam representantes nos conselhos que administram o FGTS, os fundos de pensão e outros assemelhados espalhados pelo país. Enfim, representantes de comunidades se espalham pelo país, fazendo brotar a esperança de um Brasil mais participativo.
Assim, para a consolidação da democracia, espera-se que o representante seja o espelho dos cidadãos e das organizações que o designou, o receptor mais autorizado para escutar as suas lamúrias e o porta-voz mais legítimo para tornar reais as suas esperanças. Como oriundo de um processo eleitoral, deve ser fiel às promessas assumidas durante a campanha. Caso seja representante de uma organização, comunidade ou segmento social, deve observar o pensamento da entidade, sociedade ou agrupamento que está a representar. E como representante destes cidadãos e organizações, mesmo quando legalmente livre para agir e votar segundo suas próprias concepções, não pode esquecer as motivações de sua escolha. Afinal, afastar-se dos compromissos da representação equivale à perda da condição ética da própria representação. E sem a ética não há que se falar na manutenção da representação, pois negada a sua legitimidade e a razão da existência democrática.
Aliás, exatamente porque perdera a sua condição ética de representante, negando as promessas assumidas publicamente, o ex-presidente Collor fora afastado, via mobilização popular e posterior impeachment, da sua condição de mandatário dos cidadãos brasileiros. A mesma razão que fez movimentar os cidadãos que se mostraram inconformados com as absolvições de vários personagens envolvidos em atos de corrupção, inclusive fazendo nascer a segunda lei de iniciativa popular batizada de Lei da Ficha Limpa. Nesta mesma linha de coerência, para devolver ao cidadão o direito de retomar as rédeas do seu destino é que se exige a aprovação do projeto de lei que estabelece no Brasil o recall, isto é, a possibilidade de revogação do mandato eletivo nos casos de ausência ética na representação.
O ano de 2012 recomeça com a ética da representação na pauta. Ao STF, quando analisar a questão da competência do importantíssimo Conselho Nacional de Justiça, caberá decidir se os magistrados faltosos em seus deveres continuaram impunes ou, como quer a cidadania, afastados da missão de julgar com isenção, como seriam os demais servidores que se servem da coisa pública. À presidente Dilma Rousseff incumbirá escolher, quando da anunciada reforma ministerial, personalidades desconhecidas das páginas policiais ou dos bastidores obscuros da politicagem. Ao parlamento incumbirá a missão de aprovar as reformas tão solicitadas pelo país, resistindo às pressões dos grupos políticos e econômicos que insistem em manter o patrimonialismo que se arrasta por décadas nestas terras tupiniquins. Mas tocará ao povo, sobretudo a ele, a missão mais importante do ano: escolher diretamente prefeitos e vereadores comprometidos com a ética da representação. Afinal, como se sabe, de overdose de ética ninguém morre.